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domingo, 29 de julho de 2012

51b - Como extrair sebo da gordura animal


Original Inglês de David Fisher
Nas etiquetas de muitos sabões vendidos comercialmente poderemos encontrar o taloato de sódio como ingrediente. Isto quer dizer que o sabão foi feito à base de gordura animal. Taloato de sódio é extraído do sebo, que é extraído da gordura animal, com a ajuda de um ingrediente alcalino, ou básico, como por exemplo a lixívia.
  
Há algumas razões simples para o uso do sebo de origem animal no fabrico de sabão:
  1. é de baixo custo,
  2. encontra-se com facilidade,
  3. faz um sabão muito bom.
Podemos não concordar com o uso de animais e produtos animais para o nosso consumo, mas o que é certo é que a espuma do sabão feito com gorduras animais é consistente e cremosa, o que é difícil de produzir com sabão feito à base de gorduras vegetais.
  
A gordura animal é mais difícil de guardar sem criar ranço. Por isso muitos sabões são feitos com gorduras vegetais. Mas se decidirmos fazer sabão com gordura animal há um processo a seguir para extrair o sebo da gordura animal.
  
1 – Gordura animal para extração de sebo
  
Gordura animal para extração do sebo
  
O talho local pode ser uma fonte deste ingrediente. E se de vez em quando dermos algum sabão como oferta, muito possivelmente teremos um fornecedor fiel da gordura que precisarmos.
  • 2 – 3 kilos de gordura animal cortada em pequenos pedaços ou picada
  • uma panela grande onde faremos o nosso sabão
  • água e sal
  • uma peneira ou um passador
  • uma tigela ou alguidar para arrefecer a gordura
  • umas colheres grandes (e um amassador de batata se tiver)
2 – Adicionar água e sal
  
Adicionar água e sal à gordura na panela

A extração do sebo consiste muito simplesmente em derreter a gordura animal para separar o sebo dos restos de carne, cartilagem e outras impurezas. 
  
Para extrair o sebo põe-se a gordura animal numa panela grande e adiciona-se água até cobrir tudo. Adicionam-se 2 colheres de sopa de sal para cada kilo de gordura.
  
Note que o sebo está cortado em pequenos pedaços. Também pode ser tudo picado. Quanto mais pequenos os pedaços mais rápida e mais eficiente é a extração do sebo. No talho talvez possam ajudar passando tudo pela máquina de picar. Depois não se esqueça de agradecer com uma oferta do sabão já feito.
  
3 – Aquecer a mistura
  
Mistura de gordura, água e sal a levanter fervura

Esta fase deve ser feita em lugar bem arejado porque o cheiro não é nada agradável!
  
Fazer a mistura ferver, e depois baixar o lume de modo a que fique uma fervura lenta. Os pedaços de gordura vão começar a libertar o sebo derretido e os restos de carne vão começar a cozer.
  
4 – Ferver em lume brando
  
Fervura lenta com restos de carne

O tamanho dos pedaços de gordura determinam o tempo que a mistura vai lever a cozer. Se a gordura tiver sido picada só serão precisos uns 20 a 30 minutos de fervura. Leva mais tempo se os pedaços de gordura forem maiores. Manter a fervura lenta e mexer com frequência. Pode-se ir amassando a gordura com uma colher ou outro instrumento para ajudar a espremer o sebo. 
  
5 – Ferver até derreter toda a gordura
  
Restos de carne e cartilagens
  
A extração do sebo estará completa quando a matéria sólida que restar na panela for só a carne cozida e cartilagens. Às vezes ficam ainda uns pedaços de gordura agarrados à carne, mas pode ser pouco e não valer a pena mais trabalho nesta fase. Se quizer pode espremer estes restos sólidos para extrair as últimas gotas de sebo. Mas cuidado! Está muito quente!
  
6 – Passar o líquido pelo passador ou peneira
  
Separação da carne e cartilagens do líquido com um passador
 
Com muito cuidado, retire a panela do lume e depeje o líquido quente por um passador ou peneira para uma tijela grande ou alguidar. No passador vão ficar os últimos restos de carne e cartilagem. Se fizer isto na pia da cozinha não deixe nenhuma gordura cair pelo cano porque esta gordura vai arrefecer ao contacto com os canos, vai solidificar e vai entupir os canos!
  
Depois de retirar a peneira ou passador a água vai começar a ir para o fundo e o sebo vai começar a vir à superfície.
  
Nota: Os restos de carne e cartilagem, misturados com um pouco de milho ou amendoim moído, ou farelo, pode ser comida de que as galinhas vão gostar.
  
7 – Deixar o líquido arrefecer
  
Disco de sebo à superfície

Deixar arrefecer até atingir a temperature ambiente. Depois com cuidado colocar a tigela ou alguidar num lugar fresco (ou no frigorífico se estiver disponível) e deixar solidificar de um dia para o outro. O sebo vai formar um disco sólido à superfície. Por baixo fica uma pasta gelatinosa que não vamos usar.
  
8 – Separar o sebo
  
Separar o sebo das paredes da panela
  
Separar o disco de sebo das paredes da tigela, panela ou alguidar com uma faca ou um garfo. Retirar o sebo que se irá partindo aos bocados e colocar noutra tigela.
  
O que resta é uma massa gelatinosa que não se deve deitar na pia da cozinha porque pode entupir os canos. Ou se deita no lixo ou, quando muito, na retrete. Pode ser enterrada na terra, mas cuidado porque pode atrair ratos.
  
9 – Limpar o sebo
  
Limpar bem o sebo de restos de gordura ou carne

Durante o arrefecimento podem-se ter acumulado pedacinhos de gordura ou carne no lado inferior do disco de sebo. Estes devem ser limpos com um pano molhado e o resto limpo com água fresca a correr. Estes restos também não devem ir pelo ralo da pia da cozinha. Podem ir para as galinhas.
  
10 – Sebo para fazer sabão
  
Sebo extraído pronto a ser usado para fazer sabão

Corte a placa de sebo em pequenos bocados e coloque-os num saco de plástico e guarde-os no congelador se precisar de guardar por muito tempo. É bom colocar a data de preparação. O sebo conserva-se bem no congelador até mais ou menos um ano. Quando precisar de sebo é só retirar o que precisar.
  
Note sobre a qualidade do sebo:
  
Pode-se extrair sebo da gordura de qualquer animal (vaca, gazela, ovelha, búfalo). Mas a qualidade do sebo depende da qualidade da gordura que se usa.
  
As qualidades de cada tipo de óleo ou gordura definem a qualidade e as características do sabão que desejamos fazer. Num outro blogue vamos resumir algumas qualidades dos óleos e sebos. Mas antes disso vamos fazer algum sabão com o sebo que conseguimos extrair com o processo que acabámos de descrever.

sábado, 30 de junho de 2012

63a – Cadeias de valores – outro exemplo, o sabão


Vamos explorar outra cadeia de valores relacionada com o sabão. Parece um tema um pouco simples mas acho que pode ser muito útil para as nossas comunidades agrícolas rurais.
  
Sabão é feito com uma ou mais gorduras e com um produto químico alcalino ou básico como por exemplo a soda caustica. As gorduras podem ser de origem animal ou vegetal. A soda caustica pode ser obtida das cinzas das nossas fogueiras ou fogões a lenha com a ajuda de água da chuva.
 
Todos estes ingredientes podem ses obtidos nas nossas comunidades e o sabão pode ser vendido nos mais variados mercados. O sabão artesanal tem muito valor em muitos mercados. 
Um exemplo de uma cadeia de valores baseada no fabrico de sabão poderia ser:
  • alguém que cria gado produz e vende estrume aos agricultores
  • o criador de gado vende o gado para o matadouro
  • a pessoa do talho compra peças de carne para vender
  • o talho não vende muitos pedaços da gordura animal que os clientes não querem
  • uma pessoa recolhe a gordura animal para fazer sebo
  • na padaria usam lenha para cozer pão
  • uma pessoa recolhe as cinzas da padaria e de outros estabelecimentos
  • as cinzas são usadas em latrinas na comunidade
  • mas com água da chuva e cinzas essa pessoa também faz soda caustica
  • uma pessoa usa o sebo e a soda caustica para fazer sabão
  • essa vende o sabão na comunidade e no mercado da cidade
Aqui temos uma sequência de atividades que usam recursos já existentes, como a água da chuva, as cinzas e a gordura animal, para desenvolver um novo produto, o sabão, que vai dar trabalho a uma ou mais pessoas. O novo produto desta comunidade, o sabão, tem valor para troca com outros produtos e tem valor para gerar receitas em dinheiro pela venda nas comunidades vizinhas ou no mercado da cidade mais próxima. 
 
Além disto, certos recursos que não tinham valor antes do fabrico do sabão, como as cinzas e as gorduras animais, passaram a ter valor para o fabricante de sabão artesanal. O sabão artesanal é muito desejado porque não contém aditivos indesejáveis como muitas vezes acontece com o sabão de fabrico industrial. 
 
Algumas destas atividades podem ser feitas pela mesma pessoa numa comunididade e por pessoas diferentes noutra comunidade. Cada indivíduo em cada comunidade irá escolher o que vale a pena e o que não vale. Saberá escolher que atividades serão feitas pela mesma pessoa ou por pessoas diferentes. Em alguns casos vai ser preciso experimentar para ver o que dá melhor resultado. 
 
É sempre muito importante saber o que uma comunidade consome porque é isso que vai vender. Por vezes fabricamos o que sabemos fazer mas não é disso que a comunidade precisa. Sabão é sempre preciso embora haja já sabão no mercado. Mas se o sabão artesanal for melhor, tiver melhor cheiro, der menos alergias ou irritações na pele, ou torne a pele mais macia, o sabão artesanal vai vender melhor do que o sabão de fabrico industrial. 

O preço do sabão é importante para que possa competir com o sabão de fabrico industrial. Esse preço tem de cobrir os custos de recolha dos materiais, os custos de fabricação, e os custos de distribuição para poder render lucros. Esses custos vão depender de cada comunidade e de cada situação. Mas se a matéria prima já é de baixo custo, há muita oportunidade para fazer negócio com lucro.
 
Uma cadeia de valores é a utilização de várias atividades para benefício de vários participantes.
 
Nesta sequência de blogues vamos explorar vários métodos de fabrico para a soda caustica, o sebo de origem animal e para o fabrico do sabão. Vamos também explorar várias receitas para fabrico de sabão, não só com sebo de origem animal como com óleos de origem vegetal como o amendoim, o abacate, o caju, o coco e outras plantas que crescem nos nossos climas.