domingo, 20 de maio de 2012

30d - Fogão "rocket" de tijolo para instituições

Estou convencido que os fogões tipo rocket podem ter grande utilidade para as instituições onde não há gás para cozinhar e onde se usam panelas grandes porque há muitas bocas a alimentar a cada refeição. Estas panelas têm 40cm a 60cm de diâmetro e 20cm a 30cm ou mais de altura.
 
Tenho visto cozinhas a funcionar com fogueiras feitas no chão.
 
 
Tenho visto também que tem havido tentativas de melhorar estas condições com fogões a gás, depois abandonados (ao fundo na foto) ou porque o fornecimento de gás não era fiável ou porque os fogões deixaram de funcionar e não havia quem os concertasse. 
 
Tenho notado também que em certos casos tem havido tentativas de instalar fogões tipo rocket mas estes, ou não funcionam porque foram mal construidos embora com boas intensões ou, como este na foto abaixo, são muito altos, pouco estáveis e de difícil acesso a mulheres e crianças que invariavelmente são as que precisam de trabalhar com as panelas pesadas.
  
 
Comparado com a armação de ferro que se vê no chão, estes fogões rocket não ajudaram em nada e por razões válidas foram abandonados.
 
Imeginei que poderiamos aprender com estas lições. E assim, um fogão tipo rocket de utilidade para muitas instituições precisa de ser muito estável e junto ao chão para melhor acesso e segurança de quem os usa. Precisa também de ser feito com materiais que possam ser facilmente substituidos quando se estragam.
 
Então, partindo de ideias já usadas em muitas partes do mundo e usando a ideia do Dr. Larry Winiarski que experimentou um fogão rocket feito com 16 blocos de adobe, imaginámos este modelo:
 

Consiste de 16 blocos de adobe (barro cru) que formam uma câmara de combustão bem isolada. Este isolamento é muito importante para o bom funcionamento destes fogões. E uma simples armação de ferro que pode ser retirada a qualquer momento por qualquer motivo.
 
Tem menos de 40cm de altura e até se parece muito com a armação de ferro que se vê nas primeiras fotos acima. É como se tivessemos apenas criado uma câmara de combustão dentro da armação de ferro já existente... o que teria sido feito se os blocos de barro cru lá coubessem.
  
Contrói-se com 16 blocos de adobe (barro cru) sobrepostos uns em cima dos outros:
 
  
A primeira camada é feita com 3 blocos e um meio bloco. No centro tem um bloco um pouco mais baixo do que os outros. Isto é para a câmara de combustão ser mais eficiente.
 
 
A segunda camada é feita com mais 3 blocos e um meio bloco como a anterior mas deixando uma entrada para o ar e a lenha na frente. Põe-se um bloco na frente para servir de apoio aos pedaços de lenha e para deixar o ar entrar por baixo da lenha.
 
 
A terceira camada, feita com 4 blocos vai começar a formar a câmara de combustão tal como mostra a imagem acima.
 
 
A quarta e última camada, também com 4 blocos, completa a câmara de combustão. O fogão está pronto para ser testado. Não é preciso argamassa. Os blocos ficam soltos assim mesmo. Se um se parte, substitui-se. Simples, não é?
 
  
Usam-se aparas de lenha, gravetos, papel ou folhas secas para acender o fogo dentro do fogão. Tal como se acende uma fogueira qualquer. À medida que o fogão aquece, o que leva pouco tempo, a chama no topo do fogão vai aparecer azulada. É sinal que a lenha está a queimar bem e que todos os gases combustíveis que normalmente se libertam da lenha e se perdem estão agora a serem queimados aumentando a temperatura da chama.
 
A queima destes gases não só torna a chama mais quente como reduz a poluição.
 
Antes de começar o fogo convém instalar a armação de ferro para não nos queimarmos mais tarde quando tudo estiver já muito quente. 
  
  
Está tudo pronto para por a panela ao lume. A panela na imagem tem uns 20cm de altura e o fogão uns 35cm de altura. Uma boa altura mesmo para pessoas pequenas. Não tem abas e pode-se tirar a panela sem ter que a levantar muito. Isto para facilitar a vida das pessoas mais baixinhas e reduzir as possibilidades de a panela se entornar e queimar quem esteja por perto.
 
As abas são úteis para concentrar o calor que se perderia pelos lados da panela. Neste caso podem-se instalar abas assentes no chão. Este modelo tem duas meias abas, uma de um lado do fogão,
  
   
e outra aba do outro lado,
  
 
para ser mais fácil colocá-las e retirá-las. Com umas pegas até ficaria melhor. Estas abas podem ficar muito quentes.
 
Por último, fizemos questão de contar com as panelas maiores e assim, uma panela de 55cm de diâmetro e 30cm de altura ficaria bem aconchegada para fazer uma sopa muito boa.
  
 
Este tipo de fogão não usa grandes pedaços de lenha. Usa lenha miúda, lenha que fica quando já não há mais lenha grande. Isto facilita a tarefa de encontrar lenha além de que a lenha miúda é mais barata.
 
Também as crianças que nos lares e centros de acolhimento ajudam na cozinha já não precisam de levantar grandes troncos de lenha. Menos trabalho, né? E menos acidentes.
 
O video anexo é do Dr. Winiarski. Recomendo que vejam. Vale a pena.
  
 



sábado, 19 de maio de 2012

60 - CEBs - um modelo de empresa social

Fundamentos
 
A técnica e o equipamento necessários para o fabrico de CEBs (blocos de terra compactada) são bem conhecidos, bem documentados e testados.

É preciso obter uma determinada quantidade de terra de boa qualidade e ter acesso ao equipamento necessário para construir uma habitação.
 
Uma das grandes vantagens dos CEBs é poderem ser fabricados no local onde vai ser construída a habitação. De preferência não muito longe do local onde podemos encontrar a matéria prima. As vantagens económicas dos CEBs podem desaparecer rapidamente se tivermos de transportar a matéria prima ou os blocos fabricados a longa distância. Mas também há vantagens em centralizar a produção.
 

Precisamos de por estes conhecimentos e equipamento a trabalhar e a render.

Precisamos de clientes. Mas nem todos os clientes têm os conhecimentos para construir as suas residências e muito menos têm as finanças para adquirir o equipamento.

É necessário encontrar um modelo empresarial para superar estes obstáculos e tornar os CEBs acessíveis às pessoas que realmente precisam deles para melhorar as suas habitações, as suas condições de vida.

Estas pessoas são as mais desprotegidas e as mais vulneráveis. É com essas que este blogue se preocupa. É a elas que dirijo o meu trabalho.
 

Modelo empresarial
  
Um grupo de empresários e investidores sociais jovens, cheios de energia e conscientes das necessidades das suas comunidades juntam-se e fundam uma empresa de serviços e fabrico de CEBs.

Esta empresa presta serviços educativos em forma de workshops práticos. Estes workshops são dirigidos às pessoas que, sem estes novos conhecimentos, iriam construir as suas próprias habitações, com restos de tudo o que pudessem encontrar, num terreno qualquer. Nestes workshops as pessoas aprenderiam conhecimentos básicos de construção com CEBs.
Além destes workshops a empresa também iria:
  • adquirir uma prensa manual tipo CINVA
  • adquirir uma betoneira manual
  • alugar este equipamento
  • vender os CEBs recebidos como pagamento do aluguer
Passo-a-passo seria mais ou menos assim:
  • a empresa desenvolve e organiza workshops
  • aluga a prensa de CEB e a betoneira
  • não há pagamento inicial
  • organiza algum sistema de segurança para o equipamento 
  • o uso da prensa custa 5% da produção
  • o uso da betoneira custa 5% da produção
  • a empresa vende estes rendimentos para lucro 
  • investe em serviços adicionais e mais equipamento
Por exemplo - uma pessoa tem um terreno, obtem a matéria prima necessária e aluga a prensa de CEBs. Esta pessoa vai precisar de fabricar 1000 blocos. Então fabrica 1050 blocos, usa os 1000 de que precisa e usa os 50 blocos excedentes como pagamento do aluguer da prensa. 50 blocos adicionais seriam precisos para poder alugar a betoneira.

A pessoa desprotegida que não tem dinheiro não precisa de dinheiro mas paga pelo aluguer. Para os que possam pagar pelo aluguer em dinhairo, a empresa estabelece um preço baseado no preço de venda no mercado local dos blocos CEB.
 
Apelo aos jovens


Gente nova com inclinação empresarial de certeza que saberá refinar este modelo e fazê-lo funcionar nas suas comunidades.
  
Uma população que vive em habitações com melhores condições será mais produtiva e contribuirá para o mercado da comunidade com produtos e serviços. As pessoas desprotegidas muitas vezes só precisam de um empurrão para conseguirem sair do seu nível de sobrevivência. Nesse nível não conseguem contribuir para a comunidade. Acabam com frequência por serem um peso sem sequer terem tido uma oportunidade que fosse para ocuparem um lugar produtivo e dignificado na sua sociedade.
   
A primeira construção

A primeira construção dará o exemplo para a comunidade. Poderá ser bom (ou mau, mas espero que não) e assim induzirá a comunidade a fabricar CEBs e a viver em melhores condições. A primeira construção, uma escola, uma clínica, um centro social, uma loja ou a sede da empresa são sempre boas oportunidades. Mas haverá sempre uma boa ideia sobre onde começar em cada comunidade.
 
Pode-se começar por onde a comunidade possa observar, com facilidade, as vantagens e os benefícios que os CEBs e a empresa podem proporcionar.

  

quinta-feira, 17 de maio de 2012

21 - Mistura para blocos de terra compactada (CEB)

Um dos melhores materiais para a construção de habitações são os blocos de terra compactada (CEB). São usados em muitas regiões do mundo e têm provado que merecem mais apreciação do que por vezes se lhes dá.

Como o nome indica, estes blocos são feitos de terra que é compactada numa prensa e depois curados ao ar durante algum tempo. Não são cozidos e são mais resistentes ao tempo do que o adobe. É mais fácil construir com estes blocos do que com terra compactada usando o método conhecido por taipa.

Podem ser fabricados no local onde se vai construir. Podem ser fabricados só com terra ou estabilizados com um pouco de cal ou cimento para lhes dar ainda mais durabilidade.
 
Como não são cozidos não contribuem para as alterações climáticas nem para a desflorestação. O seu fabrico usa 5 a 15 vezes menos energia e é cerca de 8 vezes menos poluente do que outros tipos de tijolos ou blocos.  
 
Tudo isto contribui para um custo mais baixo do que as outras alternativas.
 
Há muitas publicações sobre o tema do fabrico de blocos de terra compactada (CEB) e como se constroem habitações com CEBs. Aqui vamos apenas cobrir alguns pontos básicos sobre como obter a mistura de terra usada no fabrico de CEBs.
 
Matéria prima
  
A matéria prima, a terra ou o solo, com uma boa quantidade de argila, areia e sedimentos ou silte pode-se encontrar em muitos locais à nossa volta. Esses locais são conhecidos em todas as comunidades e há sempre alguém que sabe onde a terra é melhor.


Essa terra boa para fabrico de tijolos e de CEBs encontra-se sempre por baixo da camada de terra onde crescem as plantas e que por isso tem sempre restos de origem animal e vegetal. A terra encontrada nessa acmada superficial não é boa para o que queremos.
 
Identificação do solo
 
A identificação do solo ou terra a ser usada segue o mesmo processo que usamos para obter uma boa mistura no fabrico de tijolos de adobe.
teste terra
Obtendo a mistura desejada 
 
A mistura boa para CEBs tem uma composição como mostra na imagem. Se a terra não tiver esta composição devemos adicionar mais de um ou outro material para compensar.
 

Misturam-se todos os componentes muito bem sem água. Só depois é que se adiciona água até formar uma massa meia seca que possa ser apertada na mão fazendo uma bola, mas que não deixe a mão molhada quando se aperta.
  
Essa bola deve partir-se em alguns bocados quando daixamos cair no chão da altura da cintura. Quando tivermos estes resultados temos uma mistura boa para fabricar blocos de terra copactada.
  
Podemos adicionar uns 5% de cal ou de cimento para obtermos blocos mais resitentes e mais duráveis.

22 - Uma prensa manual para CEBs

As prensas para blocos de terra compactada, ou CEBs (Compressed Earth Blocks) já existem desde que Raul Ramirez concebeu a prensa manual CINVA na década de 1950.
 

Desde então vários projetistas e empresas têm publicado e produzido prensas baseadas neste conceito. Existem vários modelos e vários sites na Net têm links onde publicam desenhos deste tipo de prensa.

Como não tenho encontrado planos para uma destas prensas decidi criar os meus próprios planos e desenhos da prensa manual CINVA, com todas as peças e dimensões de modo a servir de base para quem quizer construir uma.
 
Esta prensa que desenhei, arquivada no Google 3D Warehouse foi desenhada para blocos de 28cm x 14cm x 10cm e está dimensionada para fabricar um bloco de cada vez.
 
 
Ainda não construí um protótipo e por isso alguns detalhes ainda faltam. Mas tenho confiança que as dimensões são fiáveis e permitem a construção  de uma prensa a quem tenha acesso a uma pequena oficina de serralharia.

Logo que o protótipo seja construido e haja mais detalhes estes serão publicados neste blogue e os desenhos serão atualizados. 

Mas se tiver vontade de construir uma prensa já, não se esqueça de nos enviar informações sobre o que aprendeu o que será muito útil para todos nós.
 
Estou disponível para responder a perguntas e esclarecer quaisquer dúvidas.
 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

04b - Bons hábitos de ventilação

Uma habitação com isolamento e boa ventilação precisa da participação dos seus habitantes para funcionar bem.
 
As paredes construidas com materiais à base de argila, como o barro, os tijolos de barro ou a terra batida, absorvem e libertam calor muito mais lentamente do que paredes feitas de caniço, blocos de cimento ou chapa de zinco. Chama-se a esta propriedade capacidade térmica e inércia térmica.
 
Podemos e devemos aproveitar esta capacidade para controlar o calor ou o fresco dentro de uma habitação. 

Para que isso aconteça os ocupantes da habitação precisam de adotar certas práticas fáceis mas que muito podem contribuir para o seu conforto.
 
No tempo quente
 
Durante o tempo quente queremos que a habitação esteja mais fresca. Mas o fresco só virá à noite depois do por do sol e o ar começar a arrefecer. Nessa altura devemos abrir as entradas de ar junto ao chão e as saídas de ar junto ao telhado para deixar o ar mais fresco entrar, ou pelo menos, deixar que o ar circule ajudado pelo efeito de chaminé.
 
Durante a noite a circulação de ar ajuda a arrefecer as paredes da habitação e a libertar qualquer humidade que se tenha acumulado. Este efeito de arrefecimento é na realidade a libertação de calor acumulado nas paredes durante o dia. E assim a circulação de ar dentro da habitação vai libertar calor e humidade em excesso.

Durante o dia queremos manter nas paredes a frescura acumulada durante a noite. Para isso fechamos as entradas de ar para que o ar quente de fora não entre.

Durante o dia as paredes podem apanhar sol directamente e aquecem muito. Isso não ajuda a manter a habitação confortável. Por isso é importante que as paredes estejam à sombra. Beirais largos ou a sombra de árvores são as melhores soluções.
 
No tempo frio
  
Durante o tempo frio queremos fazer o oposto ao que fazemos no tempo quente. Queremos que o calor do dia entre e que à noite o ar frio não entre.

Quando está frio queremos que o ar mais quente do dia entre na habitação e faça circular o ar para aquecer as paredes e para libertar humidade. Abrimos então as entradas e saídas de ar durante o dia enquanto o ar exterior estiver quente. E fechamos as entradas de ar à noite para manter por mais tempo possível o calor que se foi acumulando durante o dia nas paredes.

Uma habitação isolada e ventilada mantém o calor quando é mais preciso. É certo que estamos sujeitos ao clima exterior, mas podemos tirar muito bom partido do que a natureza nos dá. 

Estes bons hábitos são simples e podem melhorar muito o conforto de uma habitação com isolamento e que nos permita controlar a ventilação.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

04a - Uma habitação ventilada

Para ventilar uma habitação sem precisar de ventoínhas e outros aparelhos elétricos temos que criar aquilo a que se chama um efeito de chaminé
 
 
O efeito de chaminé acontece quando ar fresco e mais frio vindo do exterior entra na habitação, de preferência junto ao chão, e o ar quente, o ar húmido, o ar cheio de fumo e de cheiros, sai por uma abertura junto ao tecto.

O efeito de chaminé pode ser ainda mais efetivo se o vento ajudar e se a habitação estiver construida para tirar partido dos ventos que habitualmente sopram no local onde a habitação está contruida.
 
Vamos ver alguns detalhes práticos de uma habitação bem ventilada mas também bem isolada e construida de modo que a humidade não se acumule.

Vamos começar pelas fundações.
 
  
As fundações devem ser contruidas com pedra e cimento ou com blocos de cimento para resistirem à humidade do solo. Devem também ser feitas de modo a que a base das paredes e o chão da habitação fiquem acima do nível do terreno uns 10cm a 15cm.
    
 
Enche-se o espaço dentro das paredes das fundações entulho, com terra, ou uma mistura de terra, areia e pedra e compacta-se muito bem este material. 
 

Neste exemplo constroem-se as paredes com tijolo cozido, tijolo cru, também chamado de adobe, com pau-a-pique, barro, ou tijolos de terra compactada. Todos os materiais à base de barro são muito mais protectores do calor e do frio. O barro pode durar muito tempo. É só preciso fazer um pouco de manutenção e construir um telhado que não deixe a chuva cair diretamente nas paredes.
 
  
 
Agora, com as paredes construidas, podemos construir o telhado. Tal como é muito usado, construimos o telhado com vigas, réguas e paus de modo a fazer uma grade sobre a qual se monta a chapa de metal que servirá de cobertura para a habitação. Para proteger as paredes é importante que o telhado tenha uns beirais com uns 40cm, mais ou menos. Mas para cada clima é preciso ajustar esta medida.
 
  
Antes de montar o telhado, ou mesmo depois, instalamos o material isolante entre as vigas do telhado. Este isolamento vai proteger a habitação do calor do sol e do frio. Se o isolamento for colocado entre as vigas, podemos depois forrar o tecto com caniço ou esteira para ficar mais atraente. 

 
Finalmente instalamos a chapa metálica que serve de cobertura e proteção contra a chuva. E temos a nossa habitação pronta a ser habitada.

Há alguns pormenores que vale a pena mencionar. Considerações importantes quando se constroem as paredes.

Janelas e entradas de ar
  
Uma solução para as janelas é de construir portadas como mostra a figura. Estas portadas protegem do sol e da chuva. Não precisamos de ir a correr fechar estas portadas quando começa a chover.
   
   
É muito importante abrir entradas de ar junto ao chão para deixar entrar o ar que junto ao chão é sempre mais fresco.
  
  
Estas entradas podem ser protegidas por fora com grades e por dentro com portadas como mostra a imagem. As entradas de ar devem ser sempre o mais junto ao chão possível, do lado do vento e, se possível, do lado da habitação com mais sombra.

As saídas de ar devem ser construidas o mais perto do tecto quanto possível. Neste exemplo as saídas de ar estão entre as vigas do telhado e protegemos as aberturas com rede de metal. Podem também ter portadas para o tempo frio. As saídas de ar devem ser do lado oposto ao vento.

 

Nesta imagem vemos uma janela com uma entrada de ar protegida por uma portada tipo estore e duas saídas de ar junto ao telhado protegidas com rede de arame.
 

Nesta imagem dá para ver que as saídas de ar estão mesmo junto ao telhado.


Quando se coloca o isolamento é preciso não tapar as saídas de ar.


Aqui o isolamento não tapa completamente o telhado por dentro para deixar o ar sair com mais facilidade.

  
Escolhemos uma habitação de formato simples para servir de exemplo. Cada um pode usar ideias diferentes. As janelas podem ou não ter vidros e grades. Mas o importante é construir, quando se constroem as paredes, as aberturas necessárias para as entradas e saídas de ar.

Noutro blogue podem ver-se ideias sobre o tipo de isolamento e como este pode ser fixo ao telhado.

O importante é:
  • Fundações elevadas acima do nível do terreno
  • Barro para as paredes
  • Chapa metálica no telhado
  • Isolamento por dentro do telhado
  • Entradas de ar junto ao chão
  • Saídas de ar junto ao tecto
  • o comportamento dos ocupantes
E um pouco de imaginação e criatividade. Por exemplo, durante a noite há mais ar fresco e por isso abrem-se bem as entradas de ar. Mas durante o dia quando faz muito calor, talvez seja melhor fechar as entradas de ar.

Durante os meses frios talvez seja mais confortável manter as entradas de ar abertas durante o dia e fechadas de noite.

Uma casa bem ventilada e isolada reage bem aos nossos comportamentos. Tal como trocamos de roupa conforme o clima, também devemos mudar o modo de ventilar uma habitação conforme o clima e o tempo que faz lá fora.



quarta-feira, 9 de maio de 2012

02a - Humidade nas habitações - como evitar

Falámos que a humidade nas habitações tem várias origens:
  • das cozinhas onde a água ferve, o refogado vai apurando, e a água vai evaporando das panelas,
  • dos corpos humanos que libertam vapor de água constantemente, de dia e de noite, mesmo sem estar a transpirar,
  • dos banhos porque a água quente do banho evapora.
Mas temos de considerar também a água e a humidade que entra nas habitações e que tem outras origens:
  • dos telhados que deixam entrar água das chuvas e essa água molha o interior da habitação e se evapora só com o calor do ar aumentando o nível de humidade do ar interior,
  • das paredes mal protegidas que absorvem água das chuva e depois vão libertando a humidade acumulada para o interior da habitação,
  • e do chão da habitação que vai absorvendo a humidade do terreno à sua volta e depois vai libertando essa humidade para o interior da habitação.
  
 
Esta humidade no terreno que se infiltra por baixo da habitação deixa o chão molhado, evapora-se para o interior, contribui para o desconforto da habitação, não é saudável aos seus ocupantes.

Vamos deixar os telhados e paredes para outra altura e vamos considerar agora só o chão da habitação.

Para reduzir a humidade do chão e portanto a humidade na habitação podemos tomar várias medidas:
  • construir uma fundação de pedra ou blocos de cimento,
  • elevar o nível do chão acima do nível do terreno à volta da habitação,
  • cobrir o chão com algum material impermeável.
Uma fundação de pedra ou cimento ajuda mas não chega porque a água no solo ou a água que acumula depois das chuvas penetra por baixo da fundação e vai acabar dentro da habitação ao mesmo nível a que as águas estão no exterior.
 

Por isso é muito importante levantar o nível do chão da habitação acima do nível do terreno onde a habitação está construida. A humidade que tenta infiltrar-se não penetra completamente no chão elevado deixando o interior mais seco.


Também é importante que a habitação não esteja numa zona baixa do terreno para onde correm as águas das chuvas. A água que corre á superfície mas também a água que se infiltra no terreno encontra o ponto mais baixo e entra na habitação mesmo através do terreno.
 

Cobrir o chão da habitação com um material impermeável ajuda mas não resolve o problema da humidade que tenta sempre infiltrar-se nas zonas mais baixas. Além disso esta solução pode ser mais cara.
 
Pode-se cobrir o chão de uma habitação com um material impermeável mas  por baixo do pavimento, como mostra a figura abaixo. Isto evita que a humidade penetre na camada de solo compactado que serve de chão ou de base ao pavimento interior da habitação.


Vale sempre a pena cobrir o chão de uma habitação com algum material que seja mais confortável, saudável e que ajude a manter a habitação limpa, mas primeiro é melhor resolver os problemas de infiltração de humidade antes de instalar uma cobertura do chão, um soalho ou outro tipo de pavimento. 

terça-feira, 8 de maio de 2012

Inspiração

“Os problemas do mundo não podem ser, de forma alguma, resolvidos por céticos e cínicos cujos horizontes estão limitados pela realidade óbvia. Precisamos de homens que possam sonhar com coisas que nunca foram."
 
― John F. Kennedy

segunda-feira, 7 de maio de 2012

20 - Fabricando tijolos de adobe

Para fabricar tijolos de adobe é preciso terra, esterco fresco de vaca ou cavalo, palha cortada pedaços (2cm a 5cm), água e formas.
 
MATERIAIS
 
A terra que para fazer tijolos deve ser tirada a uns 50cm de profundidade.  A terra mais à superfície costuma ter muita matéria orgânica em decomposição (palha, sementes, raízes, restos de plantas e de animais,…) e esse material não é bom para uma boa qualidade de tijolo.
 
A composição ideal da terra boa para fazer tijolo deve ser 60 a 70% de areia e 30 a 40% de argila (barro).
 
Para verificar se a terra satisfaz estas características usar um frasco de vidro grande (mais ou menos 1 litro de capacidade) e de boca larga. Encha com uma amostra de terra até 1/3 do volume do frasco e depois complete com água até 2/3 do volume do frasco, como mostra a imagem abaixo.
 
É importante usar frascos de vidro. Os testes feitos com frascos de plástico nem sempre são de confiança.
 
Fechar o frasco e agitar muito bem até a terra toda ficar em suspensão na água e depois deixe descansar. As partículas vão separar-se e a areia irá para o fundo ficando a argila por cima. Por último fica a água que deve estar bem límpida ou pelo menos pouco turva. 
 
A areia deposita-se no fundo dentro de uns minutos, mas a argila leva muito mais tempo e pode ser preciso esperar um dia ou dois até a água ficar clara ou pouco turva.
 
Medindo a altura da areia e da argila define-se a percentagem de cada uma. A quantidade de água não interessa para esta medição.
 
teste terra
 
Quando encontramos uma terra com muita argila, temos de misturar mais areia para conseguir a proporção desejada de 60 a 70% de areia e 30 a 40% de argila. Terra com pouca argila (barro) não serve para fazer tijolos.
 
Como aditivos usa-se o esterco de vaca ou cavalo, que deve ser fresco, e aparas de palha. O esterco ajuda a estabilização dos elementos químicos do tijolo e a palha ajuda a a conseguir um tijolo mais forte e menos frágil.
 
FORMAS
 
As formas podem ser feitas de madeira ou metal. Quanto mais lisas forem as paredes interiores mais facilmente se soltará o tijolo. As dimensões variam de acordo com a necessidade, mas é sempre útil que o tijolo tenha um comprimento igual a duas vezes a largura e a altura próximo à medida da largura. 
 
Um tijolo com 20cm de comprimento, 10cm de largura e 10cm de altura é um tijolo fácil de usar. As formas podem ser individuais, duplas ou quádruplas. Formas para mais de quatro tijolos são mais difíceis de usar.
 
forma simples
 
forma dupla
 
Colocar abas ou pegas na forma ajuda no trabalho de levantar a forma. As formas também podem ter formatos variados, por exemplo, em formato de cunha, com cantos arredondados, meio-tijolo, e tudo o que for útil para a construção desejada.
 
  modelos formas
PREPARAÇÃO
 
Para preparar a massa faça uma pequena cova larga no chão e cubra com uma folha grande de plástico ou lona. 
  • Põem-se os ingredientes secos na lona e mistura-se bem. 
  • Acrescenta-se a água, bem devagar e continua-se a misturar.
 
A quantidade de água é variável e depende do grau inical de humidade da terra, da areia e do esterco. A massa deve ficar bem plástica e moldável. Muita água e perde a forma, muito seca, se esfarela.
 
  
Esta massa para tijolo tem uma boa consistência. Nem muito seca nem muito molhada. O aspecto visual é uma boa indicação da qualidade da massa.
Também se pode usar uma betoneira que é muito útil quando a obra é grande.
 
betoneira 1
 
MOLDANDO OS TIJOLOS
 
Depois de amassar bem a mistura começar a fazer os tijolos. 
  • Molhar as formas para que os tijolos possam sair com mais facilidade.
  • Fazer bolas com a  massa e encher a forma enchendo bem os cantos. 
  • Retirar o excesso de massa e retirar a forma deixando o tijolo.
 
Tijolo e forma
 
Depois de fazer cada tijolo passar a forma de novo por água e retirar qualquer resto de massa que tenha ficado agarrada à forma.
 
molhando formas 1
 
Os tijolos são postos para secar e depois de dois dias devem ser virados.
 
tijolos secando
 
A secagem completa dos tijolos pode demorar vários dias.  O tempo depende das condições do clima e da quantidade de humidade inicial do tijolo. Em períodos mais húmidos a secagem é mais demorada.  Em períodos mais secos e ensolarados a secagem é mais rápida.
 
Fontes: Karen, Técnicas Construtivas, 29 de julho de 2009.

domingo, 6 de maio de 2012

30c - Fogão "rocket" de tijolo


Outro primeiro teste. Fogão improvisado usando os tijolos de matope feitos exclusivamente para o fogão "rocket-stove". Primeira avaliação: os tijolos devem ser um pouco mais altos, mais finos, e mais leves. 
  
 
Diante de uma "parede de capim" a separar o espaço privado do espaço público, do lado do espaço público estamos a fazer o primeiro teste (improvisado) com a primeira versão de "fogão-rocket" com tijolos de matope.
 
A lenha está muito longe e demora a ir buscar na Namaacha. Com este fogão apanhamos uns pequenos ramos e paus na rua que ninguém aproveita, e apenas isso será suficiente para levar a àgua a ferver.
 
O fogão são 11 pequenos tijolos burros, resultado de uma mistura de matope, água e serradura, feitos pelos próprios utilizadores, na imagem.
 

Tijolos de matope (é aqui a terra comum com textura de barro vermelho) recentemente cozidos. 
 
Produzir localmente, com matéria prima e mão de obra locais, fortalece a economia familiar.
 
O trabalho continua... 

Fonte: http://mzsuztentavel.blogspot.pt/