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segunda-feira, 16 de julho de 2012

40 - Captação de água

Nas minhas leituras deparei ontem com um artigo que me chamou à atenção,  
 
 
Este artigo foi publicado num blog que tem o nome de Um outro Moçambique é possível.
 
O artigo lembrou-me que eu tinha lido, uns dias antes, uma reportagem sobre um cidadão Indiano, de nome Rajendra Singh, que tem estado a usar métodos tradicionais para recuperar cursos de água que estavam secos há vários anos. Alguns até já estavam secos há décadas. As populações rurais passaram a ter água e novas possibilidades de plantaçãos e criação de gado.
   
  
Rajendra fez renascer a técnica tradicional de construir johads. Johads são represas pequenas e simples de contruir. Estas represas têm duas funções. Uma, a de reter as águas das chuvas permitindo que a água penetre no solo e recarregue os lençóis de água. Assim os poços de água podem funcionar melhor. A outra função é a de proporcionar água para o gado e para a rega. Os animais e plantas selvagens da região também beneficiaram e a natureza recuperou.
  
 
Fui fazer uma busca na net usando a palavra johad e as palavras equivalentes em Inglês, earthen check dams. Descobri alguns dos muitos documentos disponíveis sobre este tema e que podem ser descarregados destes sites:

Os documentos que encontrei são em Inglês, mas acho que deve haver muita informação noutras línguas. Quando eu encontrar eu publico aqui.
 
Mas se alguém procurar e encontrar, agradecia que me informassem.
 



sábado, 30 de junho de 2012

63a – Cadeias de valores – outro exemplo, o sabão


Vamos explorar outra cadeia de valores relacionada com o sabão. Parece um tema um pouco simples mas acho que pode ser muito útil para as nossas comunidades agrícolas rurais.
  
Sabão é feito com uma ou mais gorduras e com um produto químico alcalino ou básico como por exemplo a soda caustica. As gorduras podem ser de origem animal ou vegetal. A soda caustica pode ser obtida das cinzas das nossas fogueiras ou fogões a lenha com a ajuda de água da chuva.
 
Todos estes ingredientes podem ses obtidos nas nossas comunidades e o sabão pode ser vendido nos mais variados mercados. O sabão artesanal tem muito valor em muitos mercados. 
Um exemplo de uma cadeia de valores baseada no fabrico de sabão poderia ser:
  • alguém que cria gado produz e vende estrume aos agricultores
  • o criador de gado vende o gado para o matadouro
  • a pessoa do talho compra peças de carne para vender
  • o talho não vende muitos pedaços da gordura animal que os clientes não querem
  • uma pessoa recolhe a gordura animal para fazer sebo
  • na padaria usam lenha para cozer pão
  • uma pessoa recolhe as cinzas da padaria e de outros estabelecimentos
  • as cinzas são usadas em latrinas na comunidade
  • mas com água da chuva e cinzas essa pessoa também faz soda caustica
  • uma pessoa usa o sebo e a soda caustica para fazer sabão
  • essa vende o sabão na comunidade e no mercado da cidade
Aqui temos uma sequência de atividades que usam recursos já existentes, como a água da chuva, as cinzas e a gordura animal, para desenvolver um novo produto, o sabão, que vai dar trabalho a uma ou mais pessoas. O novo produto desta comunidade, o sabão, tem valor para troca com outros produtos e tem valor para gerar receitas em dinheiro pela venda nas comunidades vizinhas ou no mercado da cidade mais próxima. 
 
Além disto, certos recursos que não tinham valor antes do fabrico do sabão, como as cinzas e as gorduras animais, passaram a ter valor para o fabricante de sabão artesanal. O sabão artesanal é muito desejado porque não contém aditivos indesejáveis como muitas vezes acontece com o sabão de fabrico industrial. 
 
Algumas destas atividades podem ser feitas pela mesma pessoa numa comunididade e por pessoas diferentes noutra comunidade. Cada indivíduo em cada comunidade irá escolher o que vale a pena e o que não vale. Saberá escolher que atividades serão feitas pela mesma pessoa ou por pessoas diferentes. Em alguns casos vai ser preciso experimentar para ver o que dá melhor resultado. 
 
É sempre muito importante saber o que uma comunidade consome porque é isso que vai vender. Por vezes fabricamos o que sabemos fazer mas não é disso que a comunidade precisa. Sabão é sempre preciso embora haja já sabão no mercado. Mas se o sabão artesanal for melhor, tiver melhor cheiro, der menos alergias ou irritações na pele, ou torne a pele mais macia, o sabão artesanal vai vender melhor do que o sabão de fabrico industrial. 

O preço do sabão é importante para que possa competir com o sabão de fabrico industrial. Esse preço tem de cobrir os custos de recolha dos materiais, os custos de fabricação, e os custos de distribuição para poder render lucros. Esses custos vão depender de cada comunidade e de cada situação. Mas se a matéria prima já é de baixo custo, há muita oportunidade para fazer negócio com lucro.
 
Uma cadeia de valores é a utilização de várias atividades para benefício de vários participantes.
 
Nesta sequência de blogues vamos explorar vários métodos de fabrico para a soda caustica, o sebo de origem animal e para o fabrico do sabão. Vamos também explorar várias receitas para fabrico de sabão, não só com sebo de origem animal como com óleos de origem vegetal como o amendoim, o abacate, o caju, o coco e outras plantas que crescem nos nossos climas.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

20 - Fabricando tijolos de adobe

Para fabricar tijolos de adobe é preciso terra, esterco fresco de vaca ou cavalo, palha cortada pedaços (2cm a 5cm), água e formas.
 
MATERIAIS
 
A terra que para fazer tijolos deve ser tirada a uns 50cm de profundidade.  A terra mais à superfície costuma ter muita matéria orgânica em decomposição (palha, sementes, raízes, restos de plantas e de animais,…) e esse material não é bom para uma boa qualidade de tijolo.
 
A composição ideal da terra boa para fazer tijolo deve ser 60 a 70% de areia e 30 a 40% de argila (barro).
 
Para verificar se a terra satisfaz estas características usar um frasco de vidro grande (mais ou menos 1 litro de capacidade) e de boca larga. Encha com uma amostra de terra até 1/3 do volume do frasco e depois complete com água até 2/3 do volume do frasco, como mostra a imagem abaixo.
 
É importante usar frascos de vidro. Os testes feitos com frascos de plástico nem sempre são de confiança.
 
Fechar o frasco e agitar muito bem até a terra toda ficar em suspensão na água e depois deixe descansar. As partículas vão separar-se e a areia irá para o fundo ficando a argila por cima. Por último fica a água que deve estar bem límpida ou pelo menos pouco turva. 
 
A areia deposita-se no fundo dentro de uns minutos, mas a argila leva muito mais tempo e pode ser preciso esperar um dia ou dois até a água ficar clara ou pouco turva.
 
Medindo a altura da areia e da argila define-se a percentagem de cada uma. A quantidade de água não interessa para esta medição.
 
teste terra
 
Quando encontramos uma terra com muita argila, temos de misturar mais areia para conseguir a proporção desejada de 60 a 70% de areia e 30 a 40% de argila. Terra com pouca argila (barro) não serve para fazer tijolos.
 
Como aditivos usa-se o esterco de vaca ou cavalo, que deve ser fresco, e aparas de palha. O esterco ajuda a estabilização dos elementos químicos do tijolo e a palha ajuda a a conseguir um tijolo mais forte e menos frágil.
 
FORMAS
 
As formas podem ser feitas de madeira ou metal. Quanto mais lisas forem as paredes interiores mais facilmente se soltará o tijolo. As dimensões variam de acordo com a necessidade, mas é sempre útil que o tijolo tenha um comprimento igual a duas vezes a largura e a altura próximo à medida da largura. 
 
Um tijolo com 20cm de comprimento, 10cm de largura e 10cm de altura é um tijolo fácil de usar. As formas podem ser individuais, duplas ou quádruplas. Formas para mais de quatro tijolos são mais difíceis de usar.
 
forma simples
 
forma dupla
 
Colocar abas ou pegas na forma ajuda no trabalho de levantar a forma. As formas também podem ter formatos variados, por exemplo, em formato de cunha, com cantos arredondados, meio-tijolo, e tudo o que for útil para a construção desejada.
 
  modelos formas
PREPARAÇÃO
 
Para preparar a massa faça uma pequena cova larga no chão e cubra com uma folha grande de plástico ou lona. 
  • Põem-se os ingredientes secos na lona e mistura-se bem. 
  • Acrescenta-se a água, bem devagar e continua-se a misturar.
 
A quantidade de água é variável e depende do grau inical de humidade da terra, da areia e do esterco. A massa deve ficar bem plástica e moldável. Muita água e perde a forma, muito seca, se esfarela.
 
  
Esta massa para tijolo tem uma boa consistência. Nem muito seca nem muito molhada. O aspecto visual é uma boa indicação da qualidade da massa.
Também se pode usar uma betoneira que é muito útil quando a obra é grande.
 
betoneira 1
 
MOLDANDO OS TIJOLOS
 
Depois de amassar bem a mistura começar a fazer os tijolos. 
  • Molhar as formas para que os tijolos possam sair com mais facilidade.
  • Fazer bolas com a  massa e encher a forma enchendo bem os cantos. 
  • Retirar o excesso de massa e retirar a forma deixando o tijolo.
 
Tijolo e forma
 
Depois de fazer cada tijolo passar a forma de novo por água e retirar qualquer resto de massa que tenha ficado agarrada à forma.
 
molhando formas 1
 
Os tijolos são postos para secar e depois de dois dias devem ser virados.
 
tijolos secando
 
A secagem completa dos tijolos pode demorar vários dias.  O tempo depende das condições do clima e da quantidade de humidade inicial do tijolo. Em períodos mais húmidos a secagem é mais demorada.  Em períodos mais secos e ensolarados a secagem é mais rápida.
 
Fontes: Karen, Técnicas Construtivas, 29 de julho de 2009.